Carla SantanaNiterói
Chás de Verão — Críticas Coletivas
Fotografia: Loli Brito
Fotografia: Loli Brito


Recôndita, 2017
Vídeo-instalação
Duração 2’22’’

O mais difícil é começar
Desde o início da minha trajetória no teatro junto 
com a Jade Maria eu justifico minha prática através 
do meu corpo. Na busca de acessar entranhas doloridas 
ou não. Hoje consigo demarcar momentos, pontos, bifurcações 
e ideias-chaves que pairam a minha produção. 
No primeiro momento, creio que inconscientemente, acreditava na arte como 
um meio de cura. Trazer à tona centelhas de lugares emocionais indecifráveis e, ao mesmo tempo, preencher de indagações lacunas 

sobre a minha experiência num corpo-social repleto 
de tensões. De prima, minha linha expressiva se aliou 
à uma necessidade 
de expurgação. 
Falo sobre reflexões
má digeridas, comunicação sempre foi um problema. 
Ser vista e ouvida também.
Queria mostrar os problemas, as dores, as inquietações: o indizível. Quando meu trabalho começa a circular 
em exposições, atrelado a criação da Trovoa, 
compreendo uma outra dimensão muito importante: 
o olhar de fora. 
Para quem eu estou transmitindo. 

As interpretações e identificações mostram-me 
que eu havia traduzido na minha particularidade 
imagens e sensações que me aproximavam 

dos meus pares. Então, como guia começo 
a investigar a linha tênue entre o corpo-social 
e o corpo-subjetivo, entre o íntimo e o público.

Sem título, 2020 

Fotografia 35mm

Nós pensamos com o corpo todo

Falando sobre cura, uma pessoa 
se fez catapulta, me atirando num processo 
de afirmação para acreditar no meu processo 
e impulsioná-lo. Em 2017 conheci a Ângela Brito, 
nas reuniões da CURA, onde nos reunimos 
com outras mulheres que trabalham com criação. Estava num 
momento batendo cabeça e Ângela me disse: 
"Só pega e faz. Onde te disserem que você 
não pode, você enfia o pé e diz Eu posso!"


Sem Título, 2020
Acrílica, pastel e grafiti s\ papel
29 x 42 cm


Quero ser lembrada
sem ser vista

Que a despretensão seja a minha guia. 
Uma diretriz que aprendi na prática com 
a Ana Almeida é a liberdade
de fazer 
e não ter que suprir expectativas alheias. 

Enquanto mulher negra e artista eu não preciso
fazer trabalhos ditos “políticos” o tempo inteiro. 
A minha liberdade intelectual, estética e expressiva me tiram de um lugar massificado. Agora estou pensando sobre as águas que acometem os meus sonhos constantemente, sobre pegar 
sol na laje, sobre tartarugas e plantas. Sobre desejos, falta de vontade e clausura. Sobre minhas avós, memória, ancestralidade e esquecimento. Tudo isso enquanto objeto, estudo, texto, imagem, técnica e meio. 
Absorve e tira o caldo. O produto vem depois.




@carlasssantana

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Boca
Miúda