Fotografia: Loli Brito
Vídeo-instalação
Duração 2’22’’
O mais difícil é começar
Desde o início da minha trajetória no teatro junto com a Jade Maria eu justifico minha prática através do meu corpo. Na busca de acessar entranhas doloridas ou não. Hoje consigo demarcar momentos, pontos, bifurcações
e ideias-chaves que pairam a minha produção.
No primeiro momento, creio que inconscientemente, acreditava na arte como
um meio de cura. Trazer à tona centelhas de lugares emocionais indecifráveis e, ao mesmo tempo, preencher de indagações lacunas
sobre a minha experiência num corpo-social repleto de tensões. De prima, minha linha expressiva se aliou à uma necessidade
de expurgação.
Falo sobre reflexões má digeridas, comunicação sempre foi um problema. Ser vista e ouvida também. Queria mostrar os problemas, as dores, as inquietações: o indizível. Quando meu trabalho começa a circular em exposições, atrelado a criação da Trovoa, compreendo uma outra dimensão muito importante: o olhar de fora.
Para quem eu estou transmitindo.
As interpretações e identificações mostram-me que eu havia traduzido na minha particularidade imagens e sensações que me aproximavam
dos meus pares. Então, como guia começo
a investigar a linha tênue entre o corpo-social
e o corpo-subjetivo, entre o íntimo e o público.
Fotografia 35mm
Nós pensamos com o corpo todo
Falando sobre cura, uma pessoa
se fez catapulta, me atirando num processo
de afirmação para acreditar no meu processo
e impulsioná-lo. Em 2017 conheci a Ângela Brito, nas reuniões da CURA, onde nos reunimos
com outras mulheres que trabalham com criação. Estava num momento batendo cabeça e Ângela me disse: "Só pega e faz. Onde te disserem que você não pode, você enfia o pé e diz Eu posso!"
Acrílica, pastel e grafiti s\ papel
29 x 42 cm
Quero ser lembrada
sem ser vista
Que a despretensão seja a minha guia.
Uma diretriz que aprendi na prática com
a Ana Almeida é a liberdade de fazer
e não ter que suprir expectativas alheias.
Enquanto mulher negra e artista eu não preciso
fazer trabalhos ditos “políticos” o tempo inteiro.
A minha liberdade intelectual, estética e expressiva me tiram de um lugar massificado. Agora estou pensando sobre as águas que acometem os meus sonhos constantemente, sobre pegar sol na laje, sobre tartarugas e plantas. Sobre desejos, falta de vontade e clausura. Sobre minhas avós, memória, ancestralidade e esquecimento. Tudo isso enquanto objeto, estudo, texto, imagem, técnica e meio.
Absorve e tira o caldo. O produto vem depois.
@carlasssantana
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Boca
Miúda